Tuesday, February 5, 2013

Professor Rui Gutierrez


Resolvi que passo muito tempo criticando, avacalhando, comentando sobre pessoas que nem conheço. Afinal de contas, não é para isso que existem blogs? Para todo mundo parecer "insider" e entendido em tudo? Mas também reparei uma outra coisa. Há tanta gente super legal, que fez tanta coisa pelos outros seres humanos, mas, por não ter nascido na época certa simplesmente parece que nem passARAM pela terra. Entretanto, qualquer artista, desportista, empresário, político de dúbia qualidade gera milhares, ás vezes milhões de hits no google, se for da geração certa, lógico. Isto cria uma visão cada vez mais distorcida do mundo, da importância de certas funções. Resolvi homenagear meus professores, muitos dos quais já devem ter falecido e que permanecem anônimos na Internet.

Sou suficientemente antigo para ser de uma geração que se orgulhava de estudar em escola estadual em Sampa. Os exames de admissão eram difíceis, os currículos fortes, e os professores bons. Muitos dos professores da minha escola, o Colégio Macedo Soares, na Barra Funda, tinham nível suficiente para dar aula em faculdades, e pelo menos um dava aulas na Unicamp.

Quando o Prof. Rui foi meu professor, já era idoso. Quer dizer, idoso para uma criança pode até ser um homem de 50 anos. Quase a minha idade agora. Ai, ai. Será que já sou idoso? Bem, para mim já parecia idoso, e quem sabe me afeiçoei por ele por ser um avô próximo que nunca tive. Via meu avô Antonio pouquíssimas vezes por ano e acho que sentia falta desse contato

Não eram todos os alunos que gostavam do professor Rui, por que ele era rígido. Rígido como a gramática que ensinava. Mas certamente foi ele que me deu o gosto pelas letras e a ordenar os pensamentos, e quem diria, um dia eu ganharia a vida escrevendo. E escrevendo português nos Estados Unidos, como tradutor. Ou seja, ele foi importante na minha formação.

Foi meu professor no primerio ginasial e no primeiro colegial. Neste último ano, teve que ocupar o cargo de diretor do colégio, e foi substituído pelo professor Terra, o Terrinha, verdadeira figura carimbada.

Uma das grandes características do prof Rui era a sua integridade. Lembro-me que certa feita, em uma aula de literatura, era a vez do meu irmão ler. Um poema do Vinicius de Moraes. A certa altura, o poema tinha uma palavra de baixo calão, mas para não deixar o meu irmão numa situação embaraçosa, o Prof Rui leu a palavrinha de quatro letras. E  apesar da palavrinha ferir os seus princípios, decidiu livrar a cara do aluno, demonstrando muita integridade. Se não me falha a memória, ficou ruborizado. Bastante vermelho.

Para o prof. Rui deve ter sido difícil, por que, depois descobri, muito provavelmente era evangélico. Foi através dele que recebi meu primeiro Novo Testamento, dos Gideôes, apresentados por ele na escola.

Assim era o prof. Rui. Às vezes ranzinza, não muito dado a sorrisos, mas doce, à sua maneira. Uma vez fiquei muito orgulhoso quando ele me pediu que fosse à cantina comprar um sanduíche de queijo para ele. Cumpri a tarefa com muito gosto, pois ele merecia.  E era o único professor que tinha um jaleco cinza.

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