Tuesday, May 9, 2017

Jaroleta

Considere a palavra badalhoca. Segundo um amigo, jornalista de mão cheia e autor de um livro de crônicas, o vocábulo significa algo assim como tranqueira. De fato, a palavra, de tão relevante, inspirou até uma crônica homônima. Já para outra pessoa, tão confiável quanto o escritor, badalhoca significaria aquele resíduo sólido que insiste em permanecer no término da cavidade retal, mesmo após criteriosa limpeza mecânica. Convenhamos, são duas definições bastante díspares e confundir uma badalhoca pode trazer sérios distúrbios à saúde.

Quanto à jaroleta, ouse perguntar ao google. O sabichão do mundo virtual não retorna sequer uma instância desta palavra no nosso idioma. Nota: pronuncia-se jaroleta com “r” curto, e não dois “rr”.  Entretanto, nos idos de 1974, surgiu verbalmente a jaroleta brasileira entre o nosso meio, os estudantes da oitava série do Colégio Macedo Soares em São Paulo, ao mesmo tempo em que se popularizava a palavra “panaca”, esta sim bastante difundida, embora um tanto boco-moca hoje em dia.

De uma coisa sei. Apesar de progidiosa criatividade, não fui eu o autor do termo no vernáculo. Além de arranjar apelidos para os colegas, naquela altura das coisas já tinha criado diversos países, um continente, centenas de pilotos, marcas de carros e empresas dos mais diversos setores, canais de televisão, times de futebol, cantores e músicos no meu próprio universo, além de compor diversas músicas, com começo, fim e meio. Até um mini samba-enredo.  Criatividade com uma propensão ao detalhe não me faltava, porém não fui eu o pai da jaroleta, que fique claro.

Tampouco sei o que significava. Alguns podem atribuir ao sonoro e silábico termo um significado fálico. Outros, mera interjeição. Porém, tinha lá a jaroleta algo de proibido, como muitas coisas eram no País. Parece-me, entretanto, que era um substantivo de significado assaz obscuro, mas certamente não era uma conjugação do verbo jaroletar, nem tampouco um adjetivo. Não era um nome próprio também. Mas a jaroleta entusiasmava a nossa imaginação.

Alguns filósofos gregos julgavam que palavras tinham vida própria, e vinham ao mundo captadas, descobertas por mentes iluminadas – advinhou, filósofos. Já eram corporativistas os platões de plantão, certamente teriam criado fartas pensões para eles mesmos, se pudessem. Certamente acho isto um exagero, principalmente num mundo em que neologismos e bordões dão à luz às pencas. Quem criou a jaroleta, portanto, não deve ter sido um gênio, porém, merece crédito. Sua criação não pode ficar fora do universo virtual.   

Não sei se algum antigo colega vai se lembrar da pseudo-elocução. Quem sabe, alguém até possa assumir a paternidade da expressão, com um orgulho alqaedista.


Para mim, resta somente fazer jus a esta simpática palavra, que um dia foi criada, repetida algumas vezes, teve uma existência efêmera e logo morreu uma morte pene-latina. Digo isso por que não teve a oportunidade de influenciar algumas dezenas de idiomas. Homenageio aqui a imaginação de um colega, provavelmente, próximo, que pariu a jaroleta. Viva a jaroleta.


P.S - Desde que escrevi este post, há muitos anos atrás, surgiram diversas menções da palavra mundo afora. Renasceu a jaroleta!.