Tuesday, February 5, 2013

Dona Ophelia


Há certos eventos traumatizantes na vida que são inevitáveis. Uma doença séria, enfrentar a morte de um ente querido, acabar um namoro. Coisas desse tipo. Quando comecei a escrever meus postings sobre professores do Colégio Macedo Soares em São Paulo, senti a inevitabilidade de ter que escrever sobre a dona Ophélia, uma das professoras da minha turma B de professores. Até onde pude, posterguei o suplício.

Aqui vai.

Para os que não conheciam a dita cuja, Dona Ophélia era baixinha, e acho que já tinha uma certa, na realidade bastante idade, pois tinha o hábito de ficar mastigando a gengiva. Falava muito alto. Quase berrava. Fazia questão de ser antipática e dar medo nos alunos, e não era lá essas coisas com adultos. Suas chamadas orais de sopetão devem ter feito muita gente urinar nas calças. Praticamente xingava os alunos, chamando-os de fedidos e postes (era assim que se referia a um pobre colega que era muito alto para a sua idade).

Além disso, já devia estar gagá e fazia erros. Na sexta série eu era muito quieto, mas o próximo número da chamada era de um colega que era um verdadeiro terror. Pois bem, certa feita os dois se desentenderam e a dona Ophélia deu um zero. Para mim, que não tinha feito nada!!! Em vez de dar zero para o seis, deu para o cinco. Nós dois tínhamos o nome Carlos Alberto.

Pedi para minha mãe falar com ela, mas foi reticiente, o "zerro erra prra ele" (Ela puxava o rrrrr, que dava maior impressão de braveza). Fiquei de exame final por 1,5 ponto por causa do tal 'zerro'. Me vinguei dela e obtive 8,5 no exame final. Não que ela tenha perdido sono com isso, mas para mim isso foi significativo.

O que mais detestava na Dona Ophélia (que muitos chamavam de peste velha, vejam só que injustiça) era a forma desrespeitosa com que tratava os humildes alunos da escola estadual. Pois a mestra de história, que muitos diziam ter testemunhado diversos dos eventos que relatava do Brasil Colonial, também era professora da Escola Dante Alighieri, escola particular frequentada pelo "high society" de Sampa. Duvido que lá se referisse aos alunos como fedidos ou postes. Até porque filhos de muitos políticos, empresários e militares frequentavam a escola, eram os anos Médici e a pequena professora poderia virar almoço de tubarão se ofendesse um filho de 'otoridade'. Assim, nós pagávamos o pato, o marreco, o ganso, o cisne etc.

Uma vez agradei a Dona Ophélia. Uma única vez. Ela examinava os cadernos de pontos dos alunos a cada dois meses, e pedia que preparássemos um mapa com determinado tema. Como eu gostava muito de mapas, me esmerei e fiz um mapa no estilo antigo, com anjinho soprando vento e tudo, e tentei fazer as bordas parecerem de papel velho. A professora ficou tão feliz com minha performance cartográfica que levou meu caderno de capa vermelha para expor na sala de professores. Entretanto, logo se acostumou com meu truque, e passei a ser mais um dos 'fedidos'. Daí desencanei, e passei a fazer mapas mais burocráticos.

É curioso que hoje em dia goste tanto de história. Não posso atribuir esse gosto a esta professora. Fiquei tão traumatizado com ela que, já no segundo grau, e estudando à noite, quase tive um chilique quando ela entrou na sala de aula. Desfeito mais este engano, pude relaxar e me despedir dela. Foi a última vez que a vi.

2 comments:

  1. Pelos comentários do seu blog devemos ter sido colegas de sala. Quem não lembra do Sr. Rui ...Me chame de rui e não de Ruim...... Dona Ophélia..... que se referia aos alunos como dementes ou "debilóide" rss. Professora Dalva na trigonometria e realmente fazendo vista de provas causando problemas para quem tinha problema de coração.... Parabéns pela coletânea. Temos ainda a Laginha (Francês);

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  2. Que ano vc estudou? Por acaso vc se lembra do Seu Sebastião? Que era motorista da "perua" escolar?

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