Tuesday, February 5, 2013

Dona Elza


Continuo a minha saga de blogs sobre professores do Colégio Macedo Soares de São Paulo, dos anos 70. Já que as escolas estigmatizavam os alunos com grupos A, B e C, digamos que o primeiro grupo de professores dos meus blogs era a classe A, e que daqui por diante, os professores são da classe B. Como sou bonzinho, não vou colocar nenhum professor na classe C e não vou reprovar nenhum deles, podem ficar tranquilos.

Dona Elza era professora de geografia. Muitos lembrarão dela por diversos aspectos, nenhum acadêmico. Primeiro, a vozinha finiiiiiiiiiiiiinha, que usava para dizer "Mininussshhhhh" com um sotaque faux carioca. Depois, pelos carrões que usava como transporte. Não sei exatamente por que a Dona Elza andava de Galaxie (vermelho) e depois de Dodge Dart. Acho que era bem casada, certamente não comprou esses carros com salário de professora... Morava em Higienópolis. Muitos lembrarão também das suas infindáveis palestras sobre a Alemanha. Sem dúvida, as aulas podiam ser chamadas de geografia da Alemanha, pois Dona Elza tinha uma filha que lá vivia, portanto, conhecia bem o país.

O material didático usado pela Dona Elza era legal, entretanto. Usava coisas chiques, estrangeiras. Me divertia muito com os mapas em relevo, de plástico. Também tinha um indicador de lousa colapsável que era grande novidade. Ainda lembro do plec-plec que fazia na lousa.

Confesso que eu tinha uns hábitos muito estranhos para crianças. Entre outras coisas, me deliciava em ver as páginas de commodities e mercados de valores dos jornais. Antes que você pergunte, não, nunca trabalhei nas Bolsas. Que talento perdido!! Com 11 anos eu conhecia os nomes de quase todas as companhias com capital aberto no Brasil embora não soubesse o que era OP, PN, etc. Cada vez que as ações da Acesita caíam eu ficava perturbado. Bem, voltando ao "causo". Entre as commodities, vi "mentol" listado. Cai na besteira de perguntar o que era, achando que a Dona Elza satisfaria minha curiosidade de operador de bolsa-mirim. Sua resposta? Obviamente não tinha a mínima idéia do que se tratava, mas não quis admitir. Me disse que eu teria que pesquisar o assunto e apresentar à classe. Acho que foi a última pergunta "acadêmica" que lhe fiz, a lição foi aprendida...

Apesar de tudo isso, Dona Elza tratava todos alunos bem. Poderia ser esnobe, pois obviamente vinha de um estrato social superior, mas tratava todos alunos com dignidade e carinho. O mesmo não pode ser dito da dona Ophélia...

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